domingo, 29 de abril de 2012

Texto fora de contexto é pretexto?

Ainda sobre esse interessante debate entre Dawkins e o cardeal Pell, vemos que aos 29 minutos quando o assunto se voltou para a evolução, o clérico falou o seguinte sobre a religiosidade de Charles Darwin:

"Mas há muitas coisas que a evolução não explica. Darwin entendeu isso. Darwin era teísta, porque ele disse que não podia acreditar que o imenso cosmos e todas as coisas lindas do universo surgiram ou por acaso, ou por necessidade. Ele disse: 'Eu tenho que ser classificado como um teísta'." - Cardeal George Pell.

Dawkins protestou na hora: "Isso não é verdade. Isso simplesmente não é verdade!", ao que o cardeal respondeu enfaticamente que "está na página 92 de sua autobiografia, vai dar uma olhada", arrancando aplausos de sua platéia de ovelhas.

É uma afirmação muito interessante e ousada, visto que graças à magia da internet temos à disposição a obra completa de Charles Darwin disponível on-line nesse site aqui: http://darwin-online.org.uk/biography.html.

Assim, podemos conferir o que está escrito na página 92 de sua autobiografia com facilidade. Nessa página, de fato, ele diz:

"Outra fonte de convencimento da existência de Deus, conectado à razão e não aos sentimentos, me impressiona como tendo muito mais força. Isso segue da extrema dificuldade ou até impossibilidade de conceber esse imenso e lindo universo, incluindo o homem e sua capacidade de olhar para o passado distante e para o futuro longínquo, como o resultado de puro acaso ou necessidade. Assim, refletindo, eu sou compelido a olhar para a Causa Primeira tendo uma mente inteligente em um grau similar ao do homem; e eu devo ser chamado de teísta." - Charles Darwin.

Pois é... parece que o cardeal estava certo... ponto para ele...

Porém, se ele tivesse lido o parágrafo seguinte, até a página 94, ele veria que Darwin estava falando de como pensava antigamente, e que naquele momento ele se considerava agnóstico:

"Essa conclusão estava forte em minha mente naquele tempo, desde tanto quanto posso me lembrar, quando escrevi o 'A Origem das Espécies'; e desde lá vem gradualmente, com pequenas flutuações, ficando mais fraca. Mas então surge a dúvida - pode a mente do homem, que foi, como eu fortemente acredito, desenvolvida à partir das mentes possuídas pelos mais inferiores dos animais, ser confiável quando chega a tão importantes conclusões? Podem ser que elas não sejam o resultado da conexão entre causa e efeito que para nós parece tão necessária, mas que provavelmente dependam apenas de simples experiência adquirida? Nem devo subestimar a probabilidade da constante inclusão da crença em Deus nas mentes das crianças produzindo um efeito tão forte e talvez adquirido nos seus cérebros ainda em desenvolvimento, que seria difícil para elas eliminar a sua crença em Deus, assim como um macaco mantém instintivamente o seu medo e ódio de cobras.

Eu não consigo sequer fazer de conta que posso lançar um pouco de luz sobre esses problemas tão difíceis. O mistério do princípio de todas as coisas é insolúvel a nós; e por isso preciso me conformar em permanecer agnóstico." - Charles Darwin

Então, como vemos, Charles Darwin foi bem claro quanto ao seu agnosticismo.

Reparem como há uma nota de rodapé que diz que a sua mulher havia pedido ao editor que não publicasse esse parágrafo - e, de fato, esse e muitos outros parágrafos foram suprimidos nas primeiras edições, por causa das implicações religiosas que eles teriam. Isso dá uma idéia do conflito pelo qual ambos Charles e sua mulher passaram. Charles e sua mulher eram extremamente religiosos. No entanto, ele foi gradualmente perdendo a sua crença à medida em que ia desenvolvendo suas teorias, até que no final da vida se considerava agnóstico.

Voltando ao cardeal Pell, agora fica claro que ele simplesmente retirou a frase de contexto completamente (e não da forma tosca como os cristãos dizem que os ateus fazem), o que significa duas possibilidades: ou ele não leu o livro e simplesmente decorou a página, o que faz dele um ignorante, ou leu e omitiu o fato de propósito, o que o seria um ato de pura desonestidade. Acredito que foi a primeira opção; ele jamais leu o livro, senão não ia deixar de entender algo tão claro. Por outro lado, falar com tanta autoridade como se tivesse lido (e ainda manda Dawkins ler!) também foi um ato de desonestidade.

O cristianismo mudou de novo?

Ainda sobre o vídeo do debate entre Richard Dawkins e o cardeal George Pell, postado no tópico anterior, ainda podemos fazer algumas colocações interessantes.

Por exemplo, aos 41 minutos, um garoto faz a seguinte pergunta:

"Eu sou ateu. O que você acha que vai acontecer quando eu morrer, e como você sabe disso?" - Mathew Thompson

O cardeal deu uma enrolada na resposta, mas basicamente disse que aqueles que morrem serão julgados de acordo com os seus atos malignos, e por isso um ateu poderia ir para o paraíso. Deve-se ficar claro que o cardeal Pell não é qualquer um dentro do círculo da igreja; há rumores de que ele pode estar na restrita lista dos pretendentes a papa no próximo conclave.

Portanto, ver uma resposta ecumênica como essa não é pouca coisa, ainda mais com os recentes ataques do Papa Ratzinger ao ateísmo e à secularização da Europa, atribuindo inclusive o nazismo ao movimento ateu.

Mas o mais importante - e lamentavelmente essa oportunidade não foi aproveitada por Dawkins - é que essa idéia contraria totalmente os ensinamentos de Cristo.

Jesus Cristo foi bem claro ao dizer (ou, pelo menos nas palavras atribuídas a ele, e já vimos que algumas delas claramente são fraudes) que a salvação só vem por meio daqueles que acreditam nele:

Marcos 16:16 Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.

E ainda em outras passagens:

Mateus 10:33  Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus.

João 3:36  Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.

João 8:24  Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.

João 14:6  Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.


Enfim, parece bem claro que os ensinamentos de Jesus dizem que nenhum descrente será capaz de entrar no "reino dos céus".

Esse ensinamento foi reforçado na igreja católica pelo Concílio IV de Latrão, em 1215, sancionado pelo papa Inocêncio III, que estabeleceu o dogma "Extra Ecclesiam nulla salus", ou seja, fora da igreja não há salvação. Esse é um dogma ex cathedra, quando o papa faz o uso de sua infalibilidade para definir uma doutrina com suprema autoridade, e não pode ser mudada.

Como eu queria estar no lugar do Dawkins nesse momento! Queria ver o cardeal piando quando eu perguntasse se o dogma da igreja mudou, ou, se é apenas uma opinião pessoal dele que os ateus podem ser salvos, então perguntaria se ele discorda de um dogma oficial de sua própria igreja e por quê.

É uma pena, mas enfim, talvez algum católico - talvez até algum padre - apareça por aqui e nos esclareça essa dúvida. :D

sábado, 28 de abril de 2012

Pegou mal, Cardeal


LOL.

Para quem não viu, isso aconteceu de verdade, aos 48:00 minutos do vídeo abaixo, em um programa de televisão australiano.

Só para esclarecer, não foi Dawkins quem começou a dar risada, foi a platéia, porque a essa altura os ânimos já estavam acirrados, e o cardeal trouxe uma trupe de macacos que aplaudiam qualquer coisa que ele dizia, e riam das respostas de Dawkins.

Essa foi merecida, foi bem no rim.



sexta-feira, 27 de abril de 2012

Opinião de peso! (4)


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Que bom se fosse...


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Dez motivos para ser contra o casamento homossexual

1) Ser gay não é natural. Cidadãos de verdade rejeitam tudo o que não é natural, como óculos, poliéster, ar condicionado e comida congelada.

2) Casamento gay encoraja as pessoas a se tornarem gays, assim como ficar perto de pessoas altas te faz ficar mais alto.

3) Legalizar o casamento gay vai abrir as portas para todo o tipo de comportamento maluco. Pessoas vão poder até casar com seus animais de estimação, porque cachorros e gatos tem apoio jurídico e podem assinar contratos nupciais.

4) Casamento heterossexual existe há muito tempo e nunca mudou. As mulheres ainda são propriedade do homem, pessoas negras ainda não podem casar com pessoas brancas, e o divórcio ainda é ilegal.

5) O casamento heterossexual vai perder o sentido se o casamento gay for liberado. A santidade do casamento de ocasião de 55 horas da Britney Spears seria destruído.

6) O casamento gay não é válido porque não pode produzir filhos. Casais gays, casais inférteis e idosos não podem se casar porque nossos orfanatos ainda não estão lotados, e o mundo precisa de mais gente.

7) É claro que casais gays vão criar filhos gays, da mesma forma que casais heteros só produzem filhos heteros.

8) Casamento gay não é apoiado pela minha religião. Em uma teocracia como a nossa, os valores de uma religião são impostos em toda a população. É por isso que só existe uma religião nesse país.

9) Crianças criadas por casais gays não vão crescer saudáveis sem um pai e uma mãe. É por isso que é expressamente proibido que pais solteiros criem filhos.

10) O casamento gay vai mudar as bases da nossa sociedade, e nunca iremos nos adaptar às novas regras sociais. Da mesma forma que não nos adaptamos aos automóveis, à economia, à tecnologia e ao aumento da expectativa de vida.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Mememania 4! (Estrelando: Filosoraptor)









segunda-feira, 23 de abril de 2012

Opinião de peso! (3)



Situação embaraçosa


Aí rolou aquele silêncio constrangedor...

Educação de qualidade?


Muita gente já deve ter visto essas fotos rolando no facebook nesse fim de semana. Então esse assunto não deve ser novidade, mas mesmo assim eu tenho que falar a minha opinião a respeito. Trata-se do ensino do criacionismo nas escolas adventistas.



Preciso falar do abuso com que adultos inescrupulosos usam a inocência de crianças promover as suas crenças absurdas. Por que esses filhos da puta não apresentam suas idéias em teses de mestrado na frente de uma banca de doutores? Porque eles não conseguem, esses covardes.

Digam o que disserem, chorem o quanto quiserem, o criacionismo não tem validade alguma no meio científico. E não é por “perseguição religiosa”, é porque são idéias que não tem comprovação científica alguma. Não passam de mentiras. Petróleo não se forma em poucos milhares de anos. O Grand Canyon não foi formado pelas águas do dilúvio. Nem sequer houve um dilúvio universal.

Uma cisa precisa ficar clara: criacionismo não é uma alternativa à teoria da evolução. Ele nem sequer existe no meio científico. Criacionismo se compara às histórias da mula sem cabeça, do saci pererê, às histórias nórdicas de Thor e Odin, à astrologia, à homeopatia, enfim, aos mitos da antiguidade e às pseudociências em geral. Como eles não conseguem publicar um único texto científico revisado por pares, eles tentam entrar pela porta dos fundos, se colocando no mesmo nível de ciência de verdade, se fazendo de "perseguidos" e "injustiçados". Pura balela.

Tudo bem que escolas adventistas são colégios pagos, e bastante caros, diga-se de passagem, então eles tem o direito de ensinar o que quiserem – diferentemente de colégios públicos. Quem não está satisfeito, que mude de colégio. No entanto, é direito de qualquer pessoa exigir que o MEC fiscalize o que é ensinado, e se não está de acordo com a grade curricular estabelecida pelo ministério (e o criacionismo certamente não está), ele pode e deve intervir e cancelar o certificado dessa instituição.

Ou seja, eles são livres para ensinar sobre criacionismo, mas não poderiam emitir diplomas reconhecidos pelo MEC.

Se houvesse algum tipo de justiça no Brasil, é o que iria acontecer. Talvez ainda aconteça, se houver uma grande repercussão a respeito, quem sabe o Ministério Público ou a OAB ou alguma outra instituição cobre às autoridades o que é de direito do cidadão: a educação de qualidade, seja no ensino público ou privado.

E, para piorar , ainda foi divulgado um vídeo a respeito desse tipo de doutrinação infantil nas escolas adventistas, repleto de falácias e mentiras:


Vergonha. Esperemos a posição do MEC a respeito desse absurdo.

domingo, 22 de abril de 2012

Parem de se mexer, seus abusados!


Homossexuais no Irã buscam a "cura" na mudança de sexo

"Nem mesmo animais... cachorros e porcos realizam esse ato nojento [da homossexualidade], ainda assim eles [os políticos ocidentais] aprovam leis em favor deles em seus parlamentos" - Aiatolá Abdollah Javadi-Amoli, clérico e político iraniano.

Assim disse um dos mais proeminentes cléricos islâmicos da atualidade, o aiatolá Abdollah Javadi-Amoli.

Mahmoud Asgari, 16, e Ayaz Marhoni, 18, sendo enforcados
em praça pública pelo crime de homossexualidade.
Ele disse isso em um país onde ser homossexual é crime passível de morte sob a lei Sharia. Novas emendas aprovadas por assembleias islâmicas estabelecem a punição de 100 açoites para a prática homossexual, se o acusado participou de forma ativa no ato sexual, e pena de morte para aquele que participou de forma passiva. Isso é o que eles chamam de "reformas", aos olhos da opinião pública internacional.

Um fenômeno interessante está ocorrendo tanto no submundo gay quando abertamente nas comunidades: para evitar as duras penas para os crimes de homossexualidade, muitos gays estão se submetendo a operações de mudança de sexo.

Estranhamente, mudança de sexo não é considerado "haraam" (pecado) pela lei islâmica. Ou seja, um homossexual que mudou de sexo é aceito pelo governo sem problemas (apesar de ainda enfrentarem problemas com suas famílias).

A explicação para isso é simples: no islamismo só é considerado pecado aquilo que está explícito no Corão. Homossexualidade está. Mudança de sexo, não (nem poderia, pois esse procedimento não existia na época de Maomé).

Essa lógica deturpada está forçando homossexuais a passar pela cirurgia contra a vontade, apenas para satisfazer a sociedade e continuar vivo. Nesse caso, a mudança de sexo é vista como uma "cura" para a homossexualidade.

Os vídeos abaixo mostram o drama de alguns desses homossexuais que são forçados a mudar de sexo para agradar a sociedade. Em um deles, um diz:

"Eu estou sendo forçado a fazer a cirurgia... por causa dessa sociedade... Essa sociedade que diz que você tem que ser ou homem ou mulher... essa sociedade está me forçando a isso"

Quando é perguntado a outro: "Se você não estivesse no Irã, você faria a cirurgia?". A resposta: "Não".

Isso ocorre porque nem todos os gays são transexuais. Muitos se vestem como homem, agem como homem, e usam seus órgãos sexuais como homens. No entanto, se eles fizerem isso em sociedades islâmicas, eles são agredidos, espancados, presos e torturados, porque seus trejeitos são femininos (o mesmo acontece com as mulheres lésbicas). Assim, para se sentirem um pouco mais seguros, eles entram com o processo de mudança de sexo, mas para isso precisam pedir autorização do governo. Se comprovarem que farão mesmo a cirurgia, eles recebem um documento permitindo que utilizem roupas do sexo oposto nas ruas, para não correrem risco de serem apanhados pelos esquadrões da moralidade que rotineiramente fiscalizam as cidades.

É dessa forma que fica uma sociedade regida por leis teocratas bárbaras de eras atrasadas, que insistem em  se meter na vida alheia, forçando as pessoas a ser aquilo que elas não querem, a agir de acordo com um padrão estabelecido, a propor uma "cura" para algo que não tem nada de errado, e a impor aos outros o seu modo arcaico de vida.

Seguem os vídeos, infelizmente, ainda sem legendas em português, mas quem puder assistir, eu recomendo:













sábado, 21 de abril de 2012

Opinião de peso! (2)


A grande discrepância entre as genealogias de Moisés e Josué

Estudiosos da bíblia, arqueólogos e pesquisadores sabem que a bíblia é uma compilação de várias histórias provenientes de fontes e épocas diferentes, habilmente unidas entre si pelos escribas com o objetivo de unir uma nação em torno de uma só crença, uma só identidade. Com isso, essas "emendas" de tradições orais diferentes obviamente geram discrepâncias, e não poderia ser diferente.

No entanto, não adianta falar isso para bibliólatras inerrantistas, que acham que a bíblia não erra em nem uma única vírgula sequer.

Imaginar a bíblia como um livro que desceu do céu ditado diretamente por deus acaba provocando absurdos ridículos entre as as páginas da bíblia, como é o caso das genealogias de Moisés e Josué.

Josué foi o sucessor de Moisés após a sua morte, então eles foram contemporâneos. Só que Moisés era apenas o bisneto de Levi. Josué, por outro lado, descende do seu irmão, José, e há nada menos que 10 gerações entre eles!

Genealogia de Moisés:

Êxodo,6:16E estes são os nomes dos filhos de Levi, segundo as suas gerações: Gérson, Coate e Merari; e os anos da vida de Levi foram cento e trinta e sete anos.
Êxodo,6:18E os filhos de Coate: Anrão, Izar, Hebrom e Uziel; e os anos da vida de Coate foram cento e trinta e três anos.
Êxodo,6:20E Anrão tomou por mulher a Joquebede, sua tia, e ela deu-lhe Arão e Moisés.


Genealogia de Josué:

1Crônicas,7:25Efraim também foi pai de um filho chamado Refa. Refa foi pai de Resefe, Resefe foi pai de Telá, e Telá foi pai de Taã;
1Crônicas,7:26Taã foi pai de Ladã, Ladã foi pai de Amiúde, e Amiúde foi pai de Elisama;
1Crônicas,7:27Elisama foi pai de Num, e Num foi pai de Josué.

Nem mesmo forçando muuuuito a barra para conseguir conciliar essas duas passagens.

Segue abaixo um pequeno esquema para ajudar a entender a dificuldade do problema:


WTF cristão

Às vezes eu acho que já vi de tudo, e nada do cristianismo pode me surpreender mais. Aí eu vejo uma coisa dessas, e percebo como estou enganado:


Ninguém mais estranhou que só tem loirinhos de olhos azuis ali? PQP! Que visão assustadora! Onde estão as pessoas comuns, os negros, os pardos? Até mesmo as testemunhas de Jeová em sua visão idílica do futuro contemplava mais a diversidade que isso.

Sério, esse futuro cristão da até medo. Clara insinuação de que só os "arianos" são pessoas de sucesso, ou só eles herdarão o paraíso, porque pelo jeito ninguém mais conseguiu ou foi digno o suficiente!

E esses sorrisos forçados? Parece uma visão orwelliana onde os não-aptos foram exterminados ou "desapareceram" da sociedade, e os que ficaram sofreram uma severa lavagem cerebral.

Se o objetivo era assustar os possíveis candidatos, considere essa propaganda um sucesso completo (a não ser que o candidato seja do partido nazista)!

Não tenho fé para ser ateu - Que tipo de deus?

Norman prossegue fazendo a acertada pergunta sobre qual tipo de deus estamos falando. De fato, antes de entrar em qualquer tipo de debate religioso, é necessário estabelecer se estão falando do mesmo deus, visto que a enorme gama de possibilidades de deuses criados pelo homem podem tornar o debate confuso, frustante  e inconclusivo.

Norman, no entanto, estranhamente inclui apenas três tipos de visões: teísmo, panteísmo e ateísmo:

"A maioria das principais religiões mundiais encaixa-se em uma dessas três categorias de visões religiosas: teísmo, panteísmo e ateísmo".

Norman se esquece de mencionar o deísmo, a postura filosófica que difere do teísmo por acreditar na existência de deus, porém este não interfere no universo nem na vida humana, e dos quais participaram alguns dos maiores pensadores da história, como Voltaire, Spinoza, Galileu, Newton e Thomas Paine, entre muitos outros. Para o deísmo, então, não existem milagres, nem maldições, nem inferno, nem paraíso. Deus existe, mas apenas ligou o motor inicial do universo, e deixou ele correr sozinho.

Norman também não cita o politeísmo, provavelmente a forma mais antiga de religião, desde os sumérios na idade de bronze, até o hinduísmo contemporâneo, como praticado na Índia, Nepal, Bangladesh, etc, e compõem a terceira maior religião do mundo.

Acho improvável que alguém com o know-how de Norman Geisler não tenha conhecimento sobre o deísmo e o politeísmo, então imagino que ele não tenha considerado-os relevantes o suficiente para sequer citá-los em seu livro.

"O teísta é a pessoa que acredita num Deus pessoal criador do Universo, mas que não é parte do Universo. Isso seria mais ou menos equivalente ao pintor e à pintura. Deus é o pintor, e sua criação é a pintura. Deus fez a pintura, e seus atributos estão expressos nela, mas Deus não é a pintura. As principais religiões teístas são o cristianismo, o judaísmo e o islamismo".

Acrescentaria nesta definição que os teístas também acreditam que deus não só pode como muitas vezes não hesita em alterar as leis da natureza para seus próprio fins, ou seja, pratica milagres, curas e bênçãos, bem como maldições, castigos divinos, e toda sorte de influências sobrenaturais sobre a vida dos seres humanos. Aliás, não apenas isso, mas esses tipos de deuses tem um interesse especial em nossas vidas (especialmente em nossa vida sexual), e nos punem ou nos recompensam após a nossa morte de acordo com nossas ações enquanto vivos.

"Em contraste, uma pessoa panteísta é alguém que acredita num Deus impessoal que literalmente é o Universo. Assim, em vez de fizer a pintura, os panteístas acreditam que Deus é a pintura. O fato é que os panteístas acreditam que Deus é tudo o que existe: Deus é a grama, Deus é o céu, Deus é a árvore, Deus é este livro, Deus é você, Deus sou eu etc. As principais religiões panteístas são orientais, tais como o hinduísmo, algumas formas de budismo e muitas formas da 'Nova Era'."

Ele incluiu o hinduísmo como sendo uma forma de panteísmo? o.O

Certamente o hinduísmo é uma grande mistura de várias tradições e costumes desde os tempos primordiais, assimilando crenças mais diversas entre si e variando de região em região, incluindo aspectos do politeísmo, monoteísmo, panteísmo, monismo e até ateísmo, gerando um conceito de deus complexo e que pode variar de pessoa para pessoa. Mas simplesmente rotular o hinduísmo como panteísmo é um erro crasso.

Um ateu, naturalmente, é alguém que não acredita em nenhum tipo de Deus. Seguindo nossa analogia, os ateus acreditam que aquilo que se parece com uma pintura sempre existiu e ninguém a pintou. Os humanistas encaixam-se nessa categoria.

Considerando então os erros e definições incompletas anteriores, estava até com medo do que sairia do ateísmo, mas ele ele até que se saiu bem; ateísmo é bem isso mesmo, apenas uma pessoa que não acredita em nenhum tipo de deus.

A analogia com "uma pintura que sempre existiu e ninguém a pintou" é meio equivocada e induz ao erro. Para aproveitar a analogia, não diria que é de fato uma pintura, mas um borrão, uma mistura de cores que pelo aspecto peculiar alguém assume que foi pintada por alguém. Como uma imagem de Jesus em uma tampa de catchup ou em uma barra mordida de Kit Kat, as pessoas querem ver a obra de um criador, quando na realidade não existe nenhum.


E sobre a questão de "sempre existir", também é errônea. Já temos comprovações suficientes para estabelecer além de qualquer dúvida razoável que, pelo menos esse universo em que vivemos, teve um início, através do Big Bang. O que existia antes dele ainda é motivo de discussão, e é até difícil definir o que significa "antes do Big Bang", já que antes dele não havia o tempo. Mas existem algumas teorias que podem dar explicações no mínimo satisfatórias, as quais certamente veremos mais adiante com melhores detalhes.


Veja a seguir uma maneira fácil de memorizar essas três visões religiosas: teísmo — Deus fiz tudo; panteísmo — Deus é tudo; ateísmo — não há Deus.

Essa definição extremamente simplificada do que é deus realmente não me parece satisfatória.

Por exemplo, o teísmo ainda engloba um espectro gigantesco de deuses, variando entre o mais intrusivo, que regula e vigia todos os aspectos da vida humana, tal como o deus bíblico do antigo testamento chamado Jeová, até o deus dos não-religiosos, aquelas pessoas que acreditam em deus, mas não seguem nenhuma religião, apenas acreditam no deus invisível e genérico que nunca se revelou a nenhum profeta em particular, tolerante e que não pune ninguém eternamente.

Sabemos que o deus de Norman Geisler é o deus cristão, mas ainda assim é possível uma variedade de "deuses cristãos". O deus dele é o deus da predestinação (calvinistas) ou do livre-arbítrio (arminianos)? É o deus do pós-milenismo, pré-milenismo ou amilenismo? É o deus que aboliu as leis mosaicas (pentecostais) ou ainda as mantém (adventistas)? É o deus que tolera homossexuais (Igreja Deus é Amor) ou os odeia (Westboro Baptist Church)? A lista pode prosseguir indefinidamente.

No entanto, é importante ter isso bem definido, ou pelo menos, o mais definido quanto puder, pois ainda que não seja possível provar que deus não existe, é possível provar que determinados deuses não existem, baseado nas contradições internas de suas palavras e baseado no seu caráter. Por exemplo, o deus genérico dos teístas mencionado antes, sem forma e invisível que nunca apareceu a nenhum profeta é mais difícil de provar do que o deus bíblico Jeová. Ou seja, quanto mais informações tivermos a respeito de determinado deus, tanto mais fácil é "pegá-lo" em contradição ou em incoerência.

Imagino que no decorrer do nosso estudo teremos uma definição melhor de que tipo de deus Norman se refere em seu livro - qual deles ele pretende defender.

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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Motorhead - God was never on your side (legendado)



Se as estrelas caem sobre mim
E o Sol recusa-se a brilhar
Então as algemas podem ser desfeitas
E toda a velha palavra, cessar de rimar
Se os céus virarem pedra
Isso não importará, não mesmo
Pois não há paraíso no céu
O Inferno não espera por nossa ruína

Deixe a voz da razão brilhar
Deixe os devotos esvanecerem duma vez
A face de deus está escondida, toda invisível
Você não consegue perguntar a ele o que isso tudo significa
Ele nunca esteve a seu lado Deus nunca esteve a seu lado
Abandone o certo ou errado, decida por si mesmo
Deus nunca esteve a seu lado

Veja os dez mil ministérios
Veja os cães sagrados justos
Eles clamam o dom de curar, mas tudo que eles fazem é roubar
Abusar de sua fé, trapacear e saquear
Se deus é sábio, por que estaria ele calado
Quando esses falsos profetas se dizem amigos dele?
Por que ele está quieto, seria ele cego?
Nós fomos abandonados no final?

Deixe a espada da razão brilhar
Fiquemos livres de orações e relicários
A face de deus é escondida, tornada longínqua
Ele nunca teve uma palavra a dizer
Ele nunca esteve ao nosso lado
Deus nunca esteve a seu lado
Abandone o certo ou errado, decida por si mesmo
Deus nunca esteve a seu lado (não, não, não)

Ele nunca esteve a seu lado
Deus nunca esteve a seu lado
Nunca, nunca, nunca, nunca
Nunca a seu lado
Deus nunca esteve a seu lado
Nunca a seu lado

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Por que ateus tem tanta raiva?

Dois vídeos muito instrutivos, legendados em português, que explicam muito da "raiva" que os ateus sentem pelas religiões.

Recomendado a todos os crentes.

Parte 1:



Parte 2:



Mememania 3!










Água na boca


42 meninos mortos por duas ursas. Mais um milagre!

Essa é uma daquelas histórias que não vemos sendo contadas nos cultos e missas domingo de manhã. E não é para menos, pois muitos crentes sequer ouviram essa passagem um dia, e os que a conhecem preferem ficar quietos de vergonha.

Muitos ateus já devem conhecer essa história. Trata-se da passagem em que Eliseu, o profeta sucessor de Elias, que havia recém "subido aos céus em um redemoinho" (aham, senta lá, Cláudia), estava indo em direção a Betel, quando no caminho encontrou algumas crianças, as quais começaram a caçoar dele por causa de sua careca. Eliseu, testando seus novos superpoderes de profeta, não aceitou o bullying muito bem, e amaldiçoou as crianças "em nome do SENHOR", e eis que do mato saíram duas ursas, e desmembraram 42 daqueles meninos..

Certamente uma história linda para contar aos seus filhos!


2 Reis 2:23 Então [Eliseu] subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe, calvo!
2 Reis 2:24 E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou no nome do SENHOR; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos.
2 Reis 2:25 E dali foi para o monte Carmelo de onde voltou para Samaria.

Tem muita coisa que pode ser dita a respeito dessa história ridícula e grotesca.

A primeira, a mais óbvia, é a do caráter desse "homem de deus", que se enfurece por tão pouca coisa, e joga sua ira em crianças que sequer conheciam as consequências dos seus atos. E por causa do quê? De falta de cabelo? Um homem santo não deveria estar acima dessas coisas terrenas? E por que não dar apenas um susto nas crianças? Tinha que "despedaçá-las", como diz a bíblia?

Interessante, inclusive após o incidente, Eliseu não parece ter dado muita bola para o cenário de pedaços de crianças espalhados em meio a um banho de sangue. Apenas seguiu seu caminho tranquilamente para Betel!

Não se sabe ao certo se foi Eliseu quem enviou as ursas, ou se foi deus. A bíblia apenas diz que ele amaldiçoou as crianças. Mas isso não muda nada; se foi Eliseu, foi com a permissão de deus. Se foi deus, então a pequenez de espírito e falta de caráter é do próprio deus, por "se doer" por uma simples gozação de crianças.

Já houve crentes que disseram em suas tentativas de explicação que não se travam de crianças, mas de "anões". Desculpa esfarrapada, pois as palavras hebraicas usadas são "qatan na`ar", que significa "pequenos garotos", com idade variando entre infância e adolescência. E mesmo que fossem anões, faria alguma diferença? A passagem seria menos cruel ou repugnante?

Outra coisa que deve-se notar é como é que duas ursas conseguiriam apanhar 42 crianças. A não ser que elas fossem ursas ninjas sayajin with lasers from hell, é muito improvável que elas conseguissem realizar esse feito.

O fato é que esse número - claramente exagerado - não tem nada a ver com a realidade, pois o 42 é um número cabalístico especial para os israelitas antigos. A explicação é muito simples. Deus gosta do número 7, que significa a perfeição, plenitude, fim, acabamento. Na verdade essa preferência não veio de deus, e sim de influência pagã, a partir dos 7 corpos celestiais errantes que eram conhecidos na época, e eram considerados deuses: o Sol, a Lua, e os 5 planetas visíveis a olho nu, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. O politeísmo foi abandonado pelos israelitas, mas o número 7 continuou especial.

O número 6 então é considerado imperfeição, falta, defeito, e geralmente associado com o homem e com a maldade. 42 é o resultado de 6x7, ou seja, a perfeita maldade, representando o caráter daqueles meninos. Mostra o quão maus eram esses meninos, e como mereciam ser despedaçados por ursas selvagens (42 aparece em outras partes da bíblia, sempre associado de alguma forma com a maldade, em Juízes 12:5-6, 2 Reis 10:14, e Apocalipse 11:2 e 13:5).

Ou seja, é apenas uma história inventada, com a intenção de apresentar algum tipo de moral para as pessoas. Qual é essa moral? Oras, é essa aqui:



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Não tenho fé para ser ateu - Introdução

Conforme prometido, daremos início então ao nosso estudo sobre o livro "Não tenho fé suficiente para ser ateu", de Norman Geisler.

Norman começa seu livro falando sobre um de seus professores de faculdade. Nesse caso, em uma aula sobre religiões, o seu professor acertadamente seguiu o ponto de vista usual das universidades, que é a análise crítica-textual das escrituras bíblicas, ou seja, que Moisés não escreveu o Pentateuco, que os livros proféticos foram escritos após os eventos, e que inicialmente os judeus eram politeístas, mas que ao passar do tempo foram se tornando monoteístas, etc. É a linha usual das escolas atualmente.

Após alguns incidentes realmente desinteressantes para contar aqui, Norman alega que ao final do semestre ele ainda não tinha encontrado a resposta para a verdadeira razão de ter se matriculado naquela matéria: saber se deus existe.

Não sei se essa historia é verdade ou foi inventada só para dar um tom amistoso para o início do seu livro, porque me parece ingenuidade demais alguém se matricular em uma cadeira de seis meses numa universidade só para ter respondida a pergunta que vem incomodando a humanidade por milênios. Ele esperava mesmo que seu professor soubesse a resposta?

Ele alega espanto e indignação quando o seu professor humildemente diz que não sabe:

“Fiquei chocado. Senti vontade de repreendê-lo, dizendo: "Espere um minuto, você está ensinando que o AT é falso e nem mesmo sabe se Deus existe? O AT poderia ser verdade se Deus realmente existisse!". Mas, uma vez que as notas finais não estavam fechadas, resolvi pensar melhor. Em vez disso, simplesmente saí, frustrado em relação a todo aquele semestre. Ele poderia ter respondido com um "sim" ou um "não" sinceros, apresentando suas razões, mas não um "eu não sei".”

Então vemos a lógica de um apologista em ação. Para ele, não se poderia afirmar que o AT é falso sem antes saber se deus existe. Óbvio que isso não é verdade. Deus pode existir e o AT ainda ser falso. E pode-se provar que o AT contém vários erros históricos, matemáticos, erros de copistas, adulterações e falsificações propositais que podem ser estudadas sem a necessidade de fazer uma correlação a existência de deus como um todo. Pode-se ainda estudar o caráter desse deus em particular, e ver por exemplo que se ele alega não mudar nunca, mas em várias outras passagens ele muda de opinião e se arrepende, é óbvio que tem coisa errada na história. Esse deus em particular foi inventado, e não houve necessidade de provar se deus (o deus genérico que a maioria das pessoas acreditam) existe.

Em seguida, Norman passa para uma crítica às universidades que, segundo as palavras dele:

“...consideram todos os pontos de vista tão válidos como quaisquer outros, por mais ridículos que possam ser, com exceção do ponto de vista de que apenas uma religião ou visão de mundo possa ser verdadeira”.

Isso pra mim é mimimi e chororô de quem não consegue ter as suas idéias aprovadas em universidades e seminários históricos e científicos. É óbvio que qualquer um que for a uma universidade afirmando que é detentor da Verdade Absoluta e não for capaz de fornecer uma única evidência consistente para apoiar suas alegações vai e deve ser ridicularizado, seja ele cristão, islâmico, ou ateu.

Idéias para serem levadas a sério precisam passar pelo crivo científico, e não adianta os religiosos se sentirem perseguidos por isso, porque esse princípio vale para todos, bibliólatras, crentes da Terra oca, astrólogos, cientistas, etc.

Norman propõem em seguida uma analogia da vida com um quebra-cabeças no qual precisa-se montar as peças sem saber como é a imagem completa, sem olhar a “tampa da caixa”. Ele diz que religiões podem fornecer a tampa. É uma boa analogia, infelizmente errada. As religiões não tem essa capacidade.

Ele diz que as cinco perguntas mais importantes da vida são: “de onde viemos?”, “quem somos?”, “por que estamos aqui?”, “como devemos viver?” e “para onde vamos?”. Pode até ser, mas em seguida ele fala algo que é uma besteira sem tamanho:

“As respostas a cada uma dessas perguntas dependem da existência de Deus.”

Errado, não dependem, tanto que ateus podem responder essas perguntas relativamente bem e sem grandes problemas, e eles não dependem de deus nenhum. Certamente terei que discorrer sobre essas perguntas novamente depois, então não fazer isso agora. Apenas direi que simplesmente dizer que “foi deus quem quis/fez” não é resposta. Dessa forma, os ateus respondem essas perguntas melhor que os crentes. Mas veremos isso novamente depois.

“Se Deus existe, então existe significado e propósito para a vida.”

Norman já começa a soltar as velhas e batidas pérolas dos teístas. São esses os “incríveis” argumentos que veremos nesse livro? Francamente, esperava mais.

Vou simplesmente repetir aqui o que já explicava anos atrás para os cristãos que achavam que os ateus não tem um propósito para a vida: propósito, cada um faz o seu. E não necessariamente depende da existência de deus ou deuses nenhum. Os propósitos de cada um podem ser os mais variados possíveis. O propósito de alguém pode ser criar seus filhos no melhor ambiente possível. Para outros, pode ser sucesso em sua profissão, ser o melhor médico, advogado, engenheiro, professor, e contribuir para uma sociedade melhor. O propósito de outros pode ainda ser apenas paz de espírito. Ou encontrar o amor perfeito. Ou tudo isso junto. Ou, para muitos crentes, pode ser passar a vida inteira louvando algo que eles chamam de deus, e sonhar passar o resto da eternidade fazendo o mesmo.

O importante é: o seu propósito não precisa ser necessariamente igual ao meu. E se o seu propósito não é igual ao meu, não é motivo para dizer que eu não tenho propósito para a minha vida. Ou seja, se eu não sigo o seu propósito, não quer dizer que eu não sigo um propósito para mim mesmo. É de extrema arrogância pensar isso, e é algo comum entre os crentes.

“Se existe um verdadeiro propósito para sua vida, então existe uma maneira certa e uma maneira errada de viver.”

Aqui vemos a típica falsa dicotomia que geralmente está presente na apologia cristã. Então existe uma maneira certa e uma errada de viver, e, adivinhe, a maneira correta é a cristã, e a maneira errada são todas as outras.

Para os cristãos é muito prático colocar tudo em termos de preto e branco, certo e errado, santo e pecador, salvo e condenado. Mas é uma visão completamente equivocada. Não sabem eles que a vida é muito mais complexa do que isso, e nem tudo pode ser resolvido em termos de uma simples dualidade. É óbvio que um modo de vida pode ser mais correto do que outro, mas isso não significa que alguém que vive de forma diferente que a nossa necessariamente esteja vivendo em erro.


Norman continua:

“As escolhas que fazemos hoje não apenas nos afetam aqui, mas também na eternidade.”

Estava demorando para aparecer o bom e velho orgulho do ser humano, em se achar tão importante no esquema geral de coisas que ele se considera digno de sobreviver até à própria morte. “É claro que eu sou especial demais para ter um fim”. Esse apelo também tem a necessidade de atender ao nosso senso de justiça. O mundo é injusto, e para muitos de nós isso é inadmissível. É preciso haver alguma forma de compensação, algo que equilibre a balança, ainda que seja após a morte, ainda que seja algo totalmente inventado. Não, meu caro, o Universo não tem obrigação nenhuma de satisfazer nem a nossa sede de justiça nem o nosso orgulho. Se quisermos consertar as coisas, tem que ser aqui e agora, enquanto estamos vivos, porque após a nossa morte não fará diferença alguma.

“Por outro lado, se Deus não existe, então a conclusão é que a vida de alguém não significa nada.”

Novamente a falsa dicotomia. Ou deus existe para que a nossa vida tenha sentido, ou podemos nos matar agora mesmo que não faz diferença alguma.

Seria extremamente triste se os ateus pensassem mesmo dessa forma, e deve ser por isso que muitos crentes dizem que “não existe ateus, e sim crentes que se revoltaram contra deus”, principalmente quando vêem ateus felizes e de bem com a vida. Para eles é impossível compreender como é que uma pessoa não precisa de deus e ainda ser feliz! “É claro que no fundo eles acreditam em deus, e estão apenas em negação”. Que tal isso para arrogância?

Não, ateus não acreditam em deus, e justamente por isso devem viver a vida ao máximo, pois ela será a única que terão. Não temos a esperança nem a pretensão de achar que viveremos para sempre após a morte, e não nos iludimos com historinhas de contos de fadas e wishfull thinking. Mas preferimos assim. Melhor a dura realidade do que a entorpecente ilusão. Isso não faz a vida "não significar nada", muito pelo contrário, ela faz da vida o bem mais precioso que qualquer pessoa já recebeu.

“Uma vez que não existe um propósito duradouro para a vida, não existe uma maneira certa ou errada de viver. Não importa de que modo se vive ou naquilo em que se acredite, pois o destino de todos é o pó.”

Essa é a parte mais assustadora dos fanáticos religiosos. Aqui, ele admite claramente que se deus não existe, então ele estaria cometendo toda sorte de crimes, já que para ele não faz diferença alguma. Então, a única coisa que o impede são as conseqüências futuras do pós-vida. Ou seja, ao invés de fazer o bem porque é o correto, ele faz apenas para preservar o próprio rabo!

Que belo caráter cristão hein? E isso é algo comum entre eles, é corriqueiro ver eles fazerem esse tipo de confissão.

Eu, pessoalmente, prefiro fazer o bem porque eu sei que estou ajudando as pessoas e construindo um futuro melhor para as futuras gerações, sem me preocupar com recompensas ou punições eternas. E depois os cristãos ainda se consideram moralmente superior aos ateus!

Norman, em seguida, faz uma explicação bem superficial sobre os problemas das religiões, na qual ele destaca a existência de milhares de religiões diferentes e conflitantes entre si, o problema do mal, e a indiferença de deus. Ele vai dar as suas respostas no decorrer do livro, então também não tratarei delas agora.

“Mas aonde tudo isso nos leva? Será que a busca por Deus e pela tampa da caixa da vida é vã? Deveríamos pressupor que não existe sentido objetivo na vida e que cada um inventa sua própria tampa da caixa? Deveríamos contentar-nos com a resposta "eu não sei" do professor universitário? Achamos que não. Cremos que existe uma resposta real. Apesar das fortes objeções que identificamos (as quais abordaremos nos capítulos seguintes), acreditamos que a resposta é bastante racional. Na verdade, acreditamos que essa resposta é a mais racional e a que exige menos fé do que qualquer outra resposta possível, incluindo a opção de ser ateu.”

Então, a proposta desse livro é mostrar que o cristianismo é a resposta mais racional que existe, entre todas as possíveis, inclusive do ateísmo. Veremos nas próximas postagens se ele tem mesmo tantos argumentos quanto diz, ou e é só bravata de mais um apologista bíblico.


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domingo, 15 de abril de 2012

Opinião de peso!


sábado, 14 de abril de 2012

Falha minha!

Vixi, acredito que fiz uma besteira bem grande aqui. Estava instalando um widget novo no blog para lidar com os comentários. Parecia bem interessante, o problema é que durante a migração do layout antigo para o novo  todos os comentários feitos nos últimos dias sumiram!

Não sei se a importação ainda não terminou ou se vai ficar assim mesmo, mas desde já lamento pelo inconveniente. A discussão estava boa no tópico do Abraão, e seria uma pena se eles forem mesmo perdidos.

Vou entrar em contato com os administradores para ver se consigo recuperá-los. Qualquer informação eu retorno a vocês.

Att.

Cristiano.

Update: Os comentários voltaram! Lamento a todos pela inconveniência!

Bispos lançam campanha para desobedecer "leis injustas"

Paróquias e dioceses nos Estados Unidos lançaram uma campanha nesta quinta-feira (12) em defesa dos direitos de liberdade religiosa e para que católicos lutem contra leis que eles consideram injustas.

Por injustas eles falam de leis que obrigam as igrejas a obedecerem as mesmas leis que vale para todos, mas que vão de encontro com suas crenças. Por exemplo, a obrigação de permitir a adoção de crianças de orfanatos católicos por casais do mesmo sexo. Muitas igrejas estão fechando os orfanatos para não precisar obedecer a lei, ou seja, na cabeça "pura" e "santa" desses cristãos, eles preferem ver crianças abandonadas nas ruas do que serem adotadas por homossexuais. Outra medida da qual são contra é a obrigação de fornecer anticoncepcionais e assistência para o aborto em jovens meninas vítimas do tráfico e exploração sexual.

"De forma sem precedentes, o governo tanto força instituições religiosas a facilitar e a promover idéias contrárias aos seus ensinamentos morais, quanto define quais instituições são 'religiosas o suficiente' para merecer proteção por sua liberdade de crença", diz o documento de 12 páginas assinado pelos bispos.

Engraçado, eles alegam que seus direitos estão sendo violados quando suas entidades pastorais e beneficentes são obrigadas pelo governo a praticar ações que vão de encontro com seus dogmas, mas não reclamam que essas entidades recebem isenções e benefícios do governo por serem consideradas religiosas. Como o governo financia essas instituições, elas devem servir a toda a sociedade, não apenas aos ideais católicos.

A conta é muito simples: quer receber benefícios do governo, então atenda à sociedade inteira, baseado nos ideais da sociedade com um todo. Quer seguir estritamente os seus ideais religiosos? Então abra mão dos benefícios do governo. É claro que as instituições podem aconselhar as pessoas de acordo com suas crenças, mas não podem obrigá-las a obedecê-las, nem forçar o governo a criar leis especiais para eles.

Então, ao invés de simplesmente agir de forma cristã e obedecer o governo, conforme o apóstolo Paulo disse, preferem fechar as portas e jogar crianças adolescentes carentes nas ruas. Aposto que Jesus ficaria orgulhoso.

Informações com Associated Press.

Adulterações das Escrituras por Motivos Teológicos - III

Continuaremos com o nosso estudo sobre as adulterações nas escrituras por motivações teológicas. Se você ainda não viu, pode acompanhar a introdução na parte I e as adulterações anti-docentistas na parte II.

Os cristãos gostam de pensar que o cristianismo primitivo era uma unidade coesa de idéias, com apenas alguns problemas localizados os quais podiam ser tratados com algumas simples cartas e admoestações dos apóstolos. A verdade é que era bem o oposto disso. Haviam várias formas de cristianismo completamente conflitantes entre si, cada um alegando ser "o" verdadeiro cristianismo, e cada um com a sua própria literatura, muitas vezes com passagens forjadas ou falsificados em sua totalidade. Essa era uma forma de tentar persuadir os fiéis a se manterem na "religião correta", e se afastar das "heresias", deixando bem claro que por religião correta é a "minha crença", e heresia é a sua.

Veremos agora um outro grupo de cristãos, que se encontravam no lado diametralmente oposto aos docentistas.

Os cristãos adocionistas

Um grande número de grupos cristãos no segundo e terceiros séculos da era comum adotavam uma visão "adocionista" de Cristo. Essa visão é chamada assim porque os seus fiéis acreditavam que Jesus não era divino mas 100% humano de carne e osso, ao qual deus havia "adotado" na hora do seu batismo.

Um grupo específico de cristãos judeus que ganhou notoriedade na época eram os chamados ebionitas. Não se sabe ao certo por que receberam esse nome, mas acredita-se que pode ter sido originado da palavra grega "ebyon", que significa pobre.

Para pertencer a esse grupo, o fiel teria que ser como Jesus, ou seja, judeu. Teria que ser circuncidado se fosse homem, e seguir todas as 613 leis de Moisés. Certamente que não acreditavam na trindade, já que Jesus era um ser humano comum, nascido de uma mulher comum (nascimento não-virginal), e viveu em uma  lar judeu comum.

Para eles, Jesus era apenas um rigoroso seguidor da lei mosaica, e, por causa de ser extremamente justo aos olhos de deus, foi adotado por ele durante o seu batismo, onde se ouviu uma voz dizendo que ele era o seu filho unigênito. Desse momento em diante Jesus seguiu a missão dada por deus, que era morrer na cruz como um sacrifício pela humanidade. Depois, deus o ressuscitou, e o elevou até os céus, onde está aguardando retornar para julgar as nações.

Assim, de acordo com o ebionitas, Jesus não pré-existiu, não nasceu de uma virgem, não era divino em si. Ele era apenas um ser humano especial, escolhido por deus para ser seu filho adotivo, e executar uma missão aqui na Terra.

Adulterações anti-adocionistas das escrituras

Em resposta a essas alegações, cristãos proto-ortodoxos insistiam que Jesus não era um mero ser humano, mas realmente divino, o próprio deus encarnado. Ele nasceu sim de uma virgem, e era superior aos homens porque ele era diferente por natureza, e no seu batismo deus não fez dele o seu filho adotivo, mas apenas afirmou que ele era e sempre foi de fato seu filho unigênito, desde o início dos tempos.

Algumas vezes, alegações não eram suficientes, e os cristãos proto-ortodoxos se valiam de adulterações das escrituras para validar ou enfatizar seus pontos de vista.

Quem se manifestou em carne?

Já foi discutido aqui uma passagem em que um erro de copista em I Timóteo 3:16 pode ter implicações teológicas sérias por mudar drasticamente a interpretação da passagem, alterando a palavra omicron-sigma (ΟΣ), que significa "aquele", por teta-sigma (ΘΣ) com um traço em cima, uma abreviatura para a palavra "Deus".

1 Timóteo 3:16 Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória. (Versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada)

1 Timóteo 3:16 E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.  (Versão João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada, Fiel)

Agora nós já podemos entender o por quê. Provavelmente o escriba achou uma boa oportunidade de combater idéias adocionistas, fortalecendo a idéia de que Jesus era de fato Deus manifestado em carne.

Pai? Que pai?

Outra modificação anti-adocionista aconteceu em Lucas, na parte José e Maria levam o bebê Jesus ao tempo e Simeão o abençoa, e é dito que "seu pai e sua mãe estavam maravilhados do que se dizia dele". Peraí, seu pai? Como é que o texto diz que José é o pai de Jesus se ele nasceu de uma virgem? Assim, não é surpresa que em muitos manuscritos os escribas alteraram o texto para eliminar uma possível interpretação adocionista, alterando para "José e sua mãe", como podemos ver aqui:

Lucas 2:33 E estavam o pai e a mãe do menino admirados do que dele se dizia. (Versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada)

Lucas 2:33 
Enquanto isso, seu pai e sua mãe se admiravam das coisas que deles se diziam. (Versão João Ferreira de Almeida Atualizada)

Lucas 2:33 E José, e sua mãe, se maravilharam das coisas que dele se diziam. (Versão João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada, Fiel)

Lucas 2:33 And Joseph and his mother marvelled at those things which were spoken of him. (Versão King James)


Um fenômeno similar ocorreu em Lucas 2:43, quando José, Maria e Jesus vão a um festival em Jerusalém, e ao voltarem, é dito que Jesus ficou para trás sem que seus pais soubessem. Mas José não era de fato o pai de Jesus, então vários escribas "corrigiram" isso, alterando o texto para "José e sua mãe", como podemos ver ainda em algumas versões da bíblia.

Lucas 2:43 Terminados os dias da festa, ao regressarem, permaneceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. (Versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada)

Lucas 2:43 e, terminados aqueles dias, ao regressarem, ficou o menino Jesus em Jerusalém sem o saberem seus pais(Versão João Ferreira de Almeida Atualizada)

Lucas 2:43 E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe(Versão João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada, Fiel)

Lucas 2:43 And when they had fulfilled the days, as they returned, the child Jesus tarried behind in Jerusalem; and Joseph and his mother knew not of it. (Versão King James) 


Essas alterações não foram acidentais, elas tinham um propósito, que era o de evitar uma "interpretação errada" por parte de cristãos adocionistas.

"Tu és meu filho, e hoje te gerei"

Uma das mais intrigantes variações anti-adocionistas nos manuscritos ocorre justamente na hora do batismo de Jesus, onde os adocionistas insistem que foi nessa hora em que deus o escolheu como filho adotivo. 

No evangelho de Lucas e de Marcos, quando Jesus é batizado, os céus se abrem, o espírito santo desce na forma de uma pomba, e escuta-se uma voz nos céus. Na maioria dos manuscritos, a voz em Lucas diz a mesma coisa que em Marcos, "tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo". No entanto, em um antigo manuscrito grego e em vários manuscritos latinos, em Lucas é dito algo bem diferente: "tu és meu Filho, e hoje eu te gerei".

Hoje eu te gerei! Não é extremamente sugestivo que Jesus se tornou o Filho de Deus na hora do seu batismo?

Mas então, qual das duas formas é a original? A vasta maioria dos manuscritos gregos traz a forma tradicional,  "tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo", então podemos ser tentados a achar que essa é a forma correta e a outra a alteração. O problema é que a outra versão,  "tu és meu Filho, e hoje eu te gerei", é a mais citada entre os pais da igreja no período anterior ao da produção da maioria dos manuscritos que temos hoje. É citada no segundo e terceiro séculos em toda a parte em Roma, Alexandria, norte da África, Palestina, Gales, Espanha. Em quase todas instâncias, é a forma  "tu és meu Filho, e hoje eu te gerei" que é usada!

E não é o fato de haver mais manuscritos que automaticamente torna a passagem mais confiável. Como a passagem em Lucas destoa da de Marcos, é possível que os escribas tentassem harmonizá-las, eliminando a contradição, ao mesmo tempo em que combatem uma possível interpretação adocionista.

Único Filho ou único deus?

Uma última alteração anti-adocionista que veremos aqui pode ser encontrada no primeiro capítulo do evangelho de João. O livro começa com o famoso prólogo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus".

Ao chegar no versículo 18, duas variantes são encontradas:

João 1:18 Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. (Versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada) 

João 1:18 Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer. 
(Versão João Ferreira de Almeida Atualizada) 

João 1:18 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou. (Versão João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada, Fiel) 

João 1:18 No man hath seen God at any time, the only begotten Son, which is in the bosom of the Father, he hath declared him. 
(Versão King James) 

Qual é a correta, o "Deus unigênito", ou o "Filho unigênito"? Os melhores e mais antigos manuscritos Alexandrinos indicam que é a primeira, "Deus unigênito". Mas é interessante que essa forma raramente é encontrada em manuscritos não-alexandrinos. É possível que essa variante tenha se tornado popular apenas em Alexandria por algum escriba com idéias anti-adocionistas. Isso explicaria por que a vasta maioria dos manuscritos encontrados em todos os outros lugares não usa "Deus unigênito", mas sim "Filho unigênito".

Além disso, João chama Jesus de "Filho unigênito" em vários outros lugares, mas nunca se refere a "Deus unigênito". É até difícil entender o que isso significa ao certo. Por "unigênito" entende-se filho único, e chamar um Deus de unigênito significa que esse Deus teve um pai, e portanto não pode haver um único Deus.

É mais provável, portanto, que essa passagem foi alterada por algum escriba alexandrino que não estava confortável com o status dado a Jesus, e decidiu mudar isso. Assim, Jesus não é um mero Filho unigênito, e sim o próprio Deus unigênito, provavelmente para usar contra cristãos adocionistas.