Eu me recuso acreditar em um deus que me mandaria para o inferno apenas por não acreditar nele. (Bob Snuka)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A bíblia e a escravidão II - O Novo Testamento

Bem, conforme prometido, vamos continuar passeando pela bíblia em torno dos versículos que provam que ela apóia a escravidão. Mas antes, vamos ver o que mais alguns representantes cristãos proeminentes tinham a dizer sobre isso...

"Escravidão entre os homens é natural, porque alguns são escravos naturalmente, de acordo com o Filósofo (Polit. i, 2). Agora, a escravidão pertence ao direito das nações, como diz Isidoro (Etym, v.4). Portanto os direitos das nações é um direito natural." - Sto. Tomás Aquino, Summa Theologica, "On justice".

"A causa primeira... da escravidão é o pecado, que leva o homem ao domínio do seu semelhante - o que não acontece salvo pela vontade de Deus, no qual não há injustiça, e o qual sabe aplicar punições para todo tipo de ofensas." - Sto. Agostinho, City of God, Book XIX, Chapter. 15.

"Qualquer um que ensinar um escravo, sob o pretexto da piedade, a desprezar seu mestre e a fugir dos deveres, e a não servir seu mestre com boa vontade e toda a honra, que seja amaldiçoado" - Sínodo de Gangra, 340 e.c.

"A escravidão em si, considerada em sua essência natural, de forma alguma contraria as leis naturais e divinas... Não é contrário às leis naturais e divinas vender, comprar, trocar ou dar um escravo." - Instrução 20, O Santo Ofício (Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé), 20 de junho de 1866

"Certamente é uma questão de fé que esse tipo de escravidão em que um homem serve seu mestre como seu escravo, seja totalmente legal. Ela é provada pelas Sagradas Escrituras. Também é provado pela razão porque é razoável que todas as coisas que são capturadas em uma guerra justa passam o poder e a propriedade para os vitoriosos, então pessoas capturadas em uma guerra passam a ser propriedades dos captores. Todos os teólogos são unânimes quanto a isso." - Papa Gregório IX, Quaestiones Morales Theologicae, Lyons 1668 - 1692, Tome VIII, De Quarto Decalogi Praecepto, Tract. IV, Disp. I, Q. 3


Por enquanto chega de católicos, e vamos para os evangélicos, senão eles ficam com ciúme.

"Agora, meu caro senhor, se, dadas as evidências contidas na Bíblia que provam a legalidade da escravidão entre o povo de Deus em qualquer dispensação, a assertiva ainda é feita, mesmo à mostra dessas evidências, de que a escravidão já foi um dia o maior pecado - em qualquer lugar e sob quaisquer circunstâncias - pode você, ou qualquer homem são acreditar que a mente capaz de tal decisão, não é capaz de pisotear a Palavra de Deus em qualquer outro assunto?" - Pastor Thomas Stringfellow, A Brief Examination of Scripture Testimony on the Institution of Slavery (Locust Grove, VA, 1841)

"Se possuir escravos fosse um mal moral, não se pode supor que os Apóstolos inspirados, que não temiam homem algum, e estavam prontos para entregar as suas vidas para a causa de Deus, teriam tolerado por um momento sequer dentro da Santa Igreja... ao provar esse tema justificado pela autoridade das Escrituras, a sua moralidade também é provada, pois a Lei Divina nunca sanciona ações imorais" - Pastor Dr. Richard Furman, Presidente da Convenção Estadual Batista da Carolina do Sul, Exposition of the Views of the Baptists, Relative to the Coloured Population in the United States in a Communication to the Governor of South Carolina (1838)

"Nós temos uma grande lição para ensinar ao mundo sobre as relações entre as raças: que certas raças são permanentemente inferiores às suas capacidades que outras, e que os Africanos que estão em nossos cuidados só conseguem atingir a quantidade de civilização e desenvolvimento que são capazes - podem apenas contribuir para o benefício da humanidade na posição em que Deus os colocou para nós (isto é, a de escravos)" - Reverendo James Warley Miles, God in History: A Discourse Delivered Before the Graduating Class of the College of Charleston (March 29, 1863).


Bem, acho que chega de citações. Mas antes de começar, gostaria de parar um pouco e pensar a respeito do que lemos aqui. Será que tanta gente, durante tanto tempo, interpretou erroneamente as escrituras? Por cerca de 18 séculos a bíblia foi usada para justificar a escravidão. Podemos indagar sobre a eficiência da mensagem bíblica, quando ela propaga uma idéia errada por todos esses séculos. Só agora que entenderam corretamente? Não, não é isso. A mensagem é clara, e a bíblia continua a mesma. Os tempos é que mudaram. Quando os abolicionistas ganharam força, e se passou a ver a escravidão como uma abominação, é que as pessoas que não queriam largar suas crenças começaram a deturpar o sentido de suas escrituras.

Jesus era um que teve várias oportunidades para falar contra a escravidão. Não o fez. Por quê? Não é ele onisciente? Não pode imaginar a merda que ele fez nos séculos vindouros por ter se omitido? Uma palavra só que fosse contra a escravidão seria suficiente. Mas ela não existe. Não aconteceu. Pelo contrário, vemos como ele também apoiava a relação servo-senhor, várias vezes na bíblia.

Jesus e a escravidão:

Jesus, em uma de suas 'belas' parábolas, usa especificamente a tortura de escravos para exemplificar como será (seria?) o castigo para as pessoas na sua volta: aquele escravo que não sabia o que devia fazer e fez errado, receberá menos açoites, já aquele que sabia o que fazer e mesmo assim fez errado, receberá mais açoites. Vejam a tranquilidade com que Jesus fala de bater em escravos. Ele estava plenamente confortável com a idéia de que um escravo podia ser surrado, mesmo que ele não soubesse o que era para fazer!

Lucas,12:47Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites
Lucas,12:48Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.

Em outra ocasião, Jesus também usa a relação escravo-senhor para dizer que um escravo não faz mais que a sua obrigação ao servir seu mestre (um senhor não precisa nem sequer agradecer pelos serviços que o escravo faz), da mesma forma que os discípulos não faziam mais do que a obrigação em fazer o que Jesus mandava:

Lucas,17:7 Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa?
Lucas,17:8 E que, antes, não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois, comerás tu e beberás?
Lucas,17:9 Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado?
Lucas,17:10 Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.

Em mais uma 'bela' parábola, Jesus compara o reino dos céus a um rei que vai cobrar os seus escravos, e quando eles não tem dinheiro, com a maior naturalidade do mundo, manda vender a ele, sua mulher e seus filhos!

Mateus,18:23Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos
Mateus,18:24 E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos
Mateus,18:25 Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga.

Ou seja, Jesus não via nenhum problema em vender os filhos como escravos. Afinal de contas ele era judeu, e já vimos anteriormente que a lei mosaica permitia vender a família para pagar dívidas.

Você acha que alguém que compara o reino dos céus com um sistema escravocrata seria contra a escravidão? Faz sentido dizer uma sandice dessas? Existem outras oportunidades onde Jesus usou servos como exemplo e podia ter falado contra a escravidão. Também é claro que ele entendia a diferença entre escravos e trabalhadores contratados, principalmente na parábola dos trabalhadores na vinha (Mateus 20, 1-16) e a dos lavradores maus (Mateus 21, 33-45).

Paulo e a escravidão:

Uma das mais famosas frases usadas por escravocratas é a infame frase de Paulo que ordena os escravos a obedecerem seus senhores da mesma forma que eles obedecem a Cristo:

Efésios,6:5 Quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo,

Outras passagens que ensinam o comportamento próprio dos escravos para seus senhores e vice-versa:

Colossenses,3:22 Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor.

Colossenses,4:1 Senhores, tratai os servos com justiça e com eqüidade, certos de que também vós tendes Senhor no céu.

1Timóteo,6:1 Todos os servos que estão debaixo de jugo considerem dignos de toda honra o próprio senhor, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.

Tito,2:9 Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes ao seu senhor, dando-lhe motivo de satisfação; não sejam respondões
Tito,2:10 não furtem; pelo contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador.

É inconcebível alguém ler esses tópicos e não ver que Paulo considerava a escravidão como algo normal, corriqueira, e consequentemente, natural, correta. O único conselho de Paulo aos senhores escravistas é que tratassem bem seus escravos. Para Paulo, um cristão podia ter escravos e ainda assim ir para o céu. Bastava uma palavra, uma única palavra para libertar os escravos, e toda a história do mundo ocidental poderia ter sido diferente.

Pedro e a escravidão:

Pedro, a "pedra" da igreja, não só apoiava a escravidão, mas ensinou os escravos a serem submissos a seus senhores. E daí que vocês são esbofeteados, injustiçados e sofram na mão de perversos senhores que se acham superiores a vocês? Nada disso importa, porque Jesus também sofreu. E ele sofreu por vocês, de modo que vocês também tem que sofrer. Entenderam a lógica? Não? Eu também não.

1Pedro,2:18 Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso;
1Pedro,2:19 porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus.
1Pedro,2:20 Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.

Como alguém tem a cara de pau de dizer que a bíblia não aprova a escravidão? Em nenhum momento é dito algo como: "Não tenham escravos", "libertem seus escravos" ou "ter escravos é abominação". Não, para os personagens bíblicos, ter escravos era algo natural, e consequentemente Deus considerava a escravidão algo natural.

Conclusão:

Podemos concluir que todas aquelas pessoas que viveram nos séculos passados, e que se embasaram na bíblia para apoiar a escravidão, não estavam interpretando a bíblia incorretamente. Pelo contrário, estavam apenas fazendo exatamente aquilo que o deus deles tinha autorizado a fazer. A lei mosaica dada por deus apoiava a escravidão, Jesus apoiava a escravidão, e os apóstolos apoiavam a escravidão. É difícil para os cristãos de hoje entenderem isso, porque eles não estão acostumados a ver a bíblia pelo que ela é, e sim por aquilo que eles querem que ela seja. Mas não adianta, a moralidade que a bíblia prega não vale mais para os dias de hoje. Nós já superamos essa moralidade, melhoramos, evoluímos, aprendemos, e apesar de tudo ainda temos que amadurecer mais, para deixar crenças imbecis onde elas devem ficar: no passado. Não precisamos mais delas. Elas são obsoletas. Nós podemos fazer melhor. Basta abrir os olhos e querer.