Esse é sem dúvida um dos episódios mais conhecidos da história de Jesus, talvez de toda a bíblia. Celebrada em cultos, missas, ensinada a crianças. Certamente é a passagem bíblica que mais ganhou versões para o cinema, de tão poderosa e atraente que ela é. Entrou até no filme "A Paixão de Cristo" de Mel Gibson que, apesar de ser um relato apenas das últimas horas de vida de Jesus, incluiu a cena em um dos raros flashbacks no meio do banho de sangue.
A passagem inicia-se em João 8:1, e é bem familiar a todos: Jesus estava de boa, ensinando no templo, quando de repente aparecem alguns fariseus trazendo uma mulher com eles, alegando se tratar de uma adúltera, para que Jesus lhes dissesse o que fazer.
Tratava-se obviamente de uma armadilha. Se Jesus dissesse para soltá-la, o acusariam de violar a lei de Moisés, que ordenava o apedrejamento. Se dissesse para cumprir a lei, o acusariam de contradizer seus ensinamentos anteriores de amor e perdão.
No entanto, Jesus usou de extrema inteligência e malandragem para ver por cima da artimanha dos fariseus, dizendo uma das mais famosas frases da bíblia:
João 8, 7 (...) "Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra."
Que resposta certeira! Não apenas calou os fariseus, que um a um largaram suas pedras e foram embora, como tirou tanto Jesus quanto a mulher do aperto! É tão perfeita que até parece uma história inventada...
Mas... ela é! Da mesma forma que os doze últimos versículos de Marcos, estudiosos estão certos que essa passagem não passa de uma adição posterior, e não estava nos originais escritos pelo autor do livro de João!
Os motivos são praticamente os mesmos: essa passagem não está presente nos manuscritos mais antigos que foram preservados.
Além disso, há outros problemas contextuais. Parece que esqueceram que não se comete adultério sozinho. Porém o homem que praticou adultério com a mulher nem sequer é mencionado. Ele deveria ser apedrejado junto com ela, pois é o que manda a lei de Moisés.
E a resposta de Jesus, apesar de à primeira vista ser perfeita, no fundo é bastante fraca. Qualquer fariseu estudado saberia que em nenhum lugar na lei de Moisés é dito que somente aqueles sem pecado podem participar do apedrejamento. Eles não desistiriam tão fácil! Bastava que os fariseus - que já estavam em fúria para matar Jesus - dissessem isso, que ambos Jesus e a mulher seriam mortos.
Além disso essa passagem gera uma contradição teológica séria com relação à função de Jesus, pois afinal de contas ele acabou não cumprindo a lei de Moisés. Se ele não cumpriu a lei então seu ministério não foi perfeito, e não poderia servir como sacrifício vicário para a expiação dos pecados da humanidade... logo, sua morte foi em vão, e a humanidade não pode ser salva por ele.
Esses motivos levam os estudiosos a estarem certos que essa passagem é na verdade uma adição muito posterior. Ela não está presente em nenhum dos manuscritos mais antigos, é uma história mal contada, que contradiz partes cruciais da doutrina cristã, além de usar palavras e estilos diferentes do utilizado pelo autor no resto do livro.
Mas como ela passou a fazer parte do evangelho? A teoria mais bem aceita é a de que se tratava de uma tradição oral não-oficial sobre Jesus, que em algum ponto foi adicionada na margem de um manuscrito. Dali em diante, algum escriba achou que a nota marginal fazia parte do texto oficial, e o adicionou logo após o fim do capítulo 7. Interessante notar que alguns escribas não sabiam ao certo onde adicionar a passagem, e acabaram colocando, em alguns manuscritos, após João 21:25, e outros, ainda mais interessantemente, após Lucas 21:38.
O que se sabe ao certo é que essa passagem tão famosa e tão querida pelos cristãos, seja lá quem foi que a escreveu, não estava presente nos originais.
Apesar do monte de baboseiras sem raciocínio, copiado e colado da página de algum revoltado com a vida, vou colocar algumas coisas para quem quer que leia o texto tenha uma análise mais apurada de todo o relato deste acontecimento.
ResponderExcluir"No entanto, Jesus usou de extrema inteligência e malandragem para ver por cima da artimanha dos fariseus". Jesus não usou de malandragem, Jesus conhecia a índole deles e dada a circunstância pela lógica básica presumiu que tentavam pegá-lo de alguma forma. Raciocínio simples quando você já conhece a verdadeira intenção de alguém que se aproxima de você. O texto mesmo diz no começo "Tratava-se obviamente de uma armadilha."
"É tão perfeita que até parece uma história inventada...
ResponderExcluirMas... ela é! Da mesma forma que os doze últimos versículos de Marcos, estudiosos estão certos que essa passagem não passa de uma adição posterior, e não estava nos originais escritos pelo autor do livro de João!"
O problema é que ninguém diz onde estão esses "originais" mencionados para que pudessem ser seriamente estudados.
Tenho uma Bíblia do Rei Tiago e ela possui esse texto sendo que a KJV é uma das mais respeitadas versões e sua base textual são os textos massoréticos e o textus receptus, é só pesquisar na internet.
Pelo contrário, a King James, e a sua versão brasileira, a Almeida Corrigida Fiel, é considerada a mais pobre e a de pior tradução, justamente por utilizar como base o textus receptus da idade média, já renomados por suas adulterações e erros em relação ao texto crítico, que é bem mais antigo e mais próximo do original. somente as igrejas fundamentalistas se apegam à KJV, por causa dos versículos que apóiam suas doutrinas. Mas os estudiosos já sabem que ela é uma das piores versões.
ResponderExcluir"Parece que esqueceram que não se comete adultério sozinho. Porém o homem que praticou adultério com a mulher nem sequer é mencionado. Ele deveria ser apedrejado junto com ela, pois é o que manda a lei de Moisés."
ResponderExcluirEntão mais raciocinar mais um pouquinho, não dói nada, e poderemos perceber que a aplicação da Lei de Moisés estava sendo executada da maneira errada pois tem alguns fatores estranhos na forma com que os fariseus conduziram a situação. Primeiro que diz que a mulher foi pega em adultério... mas você pegar alguém em adultério teria que estar "espiando" ela pois não se faz isso ao ar livre ou poderiam até mesmo ter "armado" a situação pois em se tratando de pessoas com má índole não podemos duvidar de nada.
Segundo que a levaram até Jesus... que estava no templo... mas como já foi dito a intenção deles não era fazer "justiça" mas sim fazer Jesus cair na sua armadilha... se eles pegaram a mulher no ato, se tinham a Lei de Moisés para executar o castigo porque perguntar para quem nem fazia parte do sinédrio, não era nem fariseu nem saduceu, que não tem nada a ver com eles???
A forma de condução do julgamento estava totalmente fora do normal e o homem que cometeu adultério nem aparece para ser apedrejado com a mulher ou quem sabe eles já não tinham executado a sentença dele e guardaram ela para sua armadilha... não podemos afirmar nada com certeza dada a circunstância totalmente deturpada da aplicação de Levítico 20.10
Mas denomine esse textos originais para que possa procurá-los pois tenho realmente interesse em lê-los.
ResponderExcluirCristiano, tenho que voltar pro tronco mas vou aproveitar e pegar mais alguma coisa para ler sobre os textos do Novo Testamento e continuar a conversa, até!
ResponderExcluirOs originais não existem mais, o que temos são cópias de cópias de cópias, mas mesmo assim podemos analisar os manuscritos que temos, e inferir que alguns são superiores a outros. E é sabido que os manuscritos do Textus Receptus estão entre os piores, com mais erros e os mais deturpados, datados do século XII. Já os manuscritos Alexandrinos, por exemplo, que compõem o texto crítico, são dos primeiros séculos da era comum.
ResponderExcluirA explicação mais aceita para a época em que isso foi acrescentado é o século XVII, na Bíblia do rei James, que depois passou a ser a versão mais utilizada na Europa, e trazia para o Brasil pelos primeiros colonos protestantes.
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